Em uma conversa rápida de twitter, agora há pouco, surgiu a velha questão sobre dar ou não dar esmolas, ajudar ou não ajudar. Voltei no tempo imediatamente. Quem me conhece, com certeza já ouviu essa história mais de uma vez.
Eu tinha 12 anos. Ia dormir na casa da minha vó. Peguei algumas coisas, o dinheiro pro ônibus e garanti que sabia muito bem chegar sozinha.
Mas acontece que eu não cheguei.
Com a distração que me é comum (até hoje!) errei o nome do ônibus e só percebi o engano quando o caminho começou a ficar estranho. Cada vez mais estranho. Lá pelos lados do zoológico, mas bem depois. O cobrador disse que eu deveria pegar um outro ônibus no ponto final, se conseguisse, porque já era quase meia-noite. Pra piorar eu também não tinha mais dinheiro. Mas acho que o cobrador não se comoveu. Desci no ponto final, deserto, pra esperar sozinha que passasse o tal ônibus e tentar uma carona de volta.
Foi aí que apareceu uma mulher. Parece que estou vendo. Grande, forte, negra, com uma blusa azul. Ela abriu uma bolsinha e foi separando o dinheiro. Eu fiquei tão sem graça, não sabia o que dizer. Ela ainda ficou no ponto até que meu ônibus chegasse: “É perigoso ficar sozinha aqui essa hora”.
Ela já deve ter ganho na Mega Sena ou algo parecido depois disso, porque eu vivo me lembrando dela com os maiores sentimentos de gratidão. Haja energia positiva. Talvez seja por essa experiência que até hoje fico angustiada em sair sem dinheiro vivo na bolsa. Não consigo.
Eu sei que nem todos os pedidos de ajuda que encontramos na rua são sinceros. Mas alguns são. Por causa dessa dúvida, virei alvo fácil de “me ajuda a completar o valor da passagem?”. A caridade parece diferente depois que mudamos de lado.
P.S.: aproveito para registrar um feliz aniversário a pessoa que inspirou esse post (e outras aventuras misteriosas): parabéns, Walcyr Carrasco.
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