Quando eu tinha sete anos me apaixonei perdidamente. Se todo mundo tem um primeiro amor encantado e impossível, o meu foi aquele.
Passei pela sala, TV ligada na Sessão da Tarde. Um homem de cabelos pretos e camisa verde no meio de fantasias exóticas cantando “Go home… go home… go home with Bonnie Jean…go home…”.
Sem exageros. Fiquei paralisada, deslumbrada. O filme era “Brigadoon” e quando terminou eu tinha me apaixonado pelo Gene Kelly.
Admirar um artista é admirar a obra. Não necessariamente a pessoa. Com Gene foi diferente. Tudo nele me fascinava (e fascina) misteriosamente. Queria saber mais, descobrir outros filmes, rever. Mas a vida ainda era off-line e o jeito era esperar que Gene voltasse em alguma programação da madrugada e quem sabe conseguir gravar em VHS.
Com o tempo, Gene Kelly virou minha paixão de estimação. Ele era um portal, uma passagem secreta para um universo surrealista onde as pessoas expressavam sentimentos sapateando e emendavam a conversa cantando. Até na chuva.
Algumas vezes troquei com prazer um programa de sábado à noite, em plena adolescência, por “Um Dia em Nova York” ou “Marujos do Amor”.
Um belo dia o mundo ficou on-line e, além dos filmes, pude descobrir programas de TV, de rádio, sites e Gene ficou tão acessível que pensei que perderia a graça.
Não perdeu. Assistir seus filmes ainda me exige cuidado. Sei que vou ser levada novamente àquele mundo, sei que a emoção vai ser forte demais. Sei também que é um mundo perdido, como em “Brigadoon”, mas gosto de fugir pra lá quando o século 21 fica chato.
Deixo uma de minhas cenas favoritas de um filme que gosto muito, “It´s Always Fair Weather” (“Dançando nas Nuvens”), de 1955. O roteiro é muito bom, diferente, um pouco cínico e sem final feliz e por isso não agradou na época.
Mas a cena ficou. Uma coreografia com patins e Gene Kelly cantando a bela música “I Like Myself”.
E quem não gosta, Gene?
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