]O mundo sempre teve as suas “Copas”. Já era assim naquela Roma de gladiadores. É assim hoje nos olhares do mundo seguindo uma bola, embriagados, sedados, sem olhar para os lados antes de atravessar. É o circo que distrai, mesmo que às vezes falte o pão.
E assim foi também no Brasil de 1970: bola rolando no campo; sangue rolando na rua. Hipnotizado por seus gladiadores de chuteiras, foi um Brasil machucado e dramaticamente denunciado por Roberto Farias em “Pra Frente Brasil”.
Jofre é o cara comum que pega um táxi errado na hora errada e no país errado. Suspeito de subversão, vira brinquedo de torturadores, que o devoram em carne e alma. O sumiço de Jofre atrapalha o jogo, e dá início a uma história de ação como poucas vezes se viu em nosso cinema.
E mais um gol do brasil.
A vida dos outros “Jofres” (mulher, irmão, filhos, amigos de trabalho) é arrastada silenciosamente nesse redemoinho de maldade ao som da Copa de 70. Ninguém vê, ninguém ouve, concentrados no sonho de um tricampeonato.
E mais um gol do Brasil. Num processo, bem ao gosto de Kafka, a história se complica, as punições aumentam, sem que ninguém saiba mais onde estava o crime original.
O filme é um soco, uma dor, uma humilhação. Expõe nossas vergonhas, nosso ridículo, nossa alienação pseudo-patriótica e exibe uma taça. Fomos campeões? Aquele Brasil acabou. Outro segue silencioso sob os gritos de novas torcidas. Mas o filme ficou pra sempre. Foi gol do Brasil.
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