Eu já tinha ouvido falar do “Me Dê um Conselho“, um projeto de intervenção urbana do designer Daniel Motta. Em 2010, ele colocava uma caixa em pontos estratégicos de São Paulo, pedindo conselhos para as pessoas que passavam. Qualquer conselho. Era só parar, escrever e depositar na caixa. E foram muitos, porque em 2012 o projeto virou um livro reunindo uma seleção de conselhos interessantes, curiosos ou emocionantes, fotografados pelo designer.
Apesar de ter conhecido a ideia na Internet, ontem me deparei com alguns desses conselhos ao vivo, expostos na estação do metrô Alto do Ipiranga.
E foi aí, recebendo conselhos não solicitados, que percebi como o projeto é a cara de São Paulo.
Porque São Paulo é uma antologia de conselhos, intromissões e soluções improváveis pra quase tudo. A chamada “solidão da cidade grande” é luxo de quem pode se esconder embaixo da cama. Um paulistano de olhos e ouvidos atentos e disponíveis, não tem opção: a cidade é uma intervenção constante, com histórias e possibilidades, não deixando você se entediar em paz.
Tudo é caos. O horário que não é cumprido, os imprevistos já previstos, o ingresso que esgota, o lugar que era moda e vira outra coisa. Mas tem também o reencontro, tem o amigo novo no meio da rua que leva a uma festa não planejada, tem o programa de última hora, as “criaturas da noite” como os bizarros personagens em “Depois de Horas“, as tribos de época e as de vanguarda. E sempre o café da manhã em alguma das centenas de padarias com o rápido encontro entre os que estão indo e os que estão chegando. Foi assim que amanheceu pra mim a cidade conselheira: com seus conselhos expostos no metrô.
Assim como não pensa duas vezes pra derrubar e reconstruir, expandir, modernizar, ela te cobra o mesmo desapego, ela te manda derrubar o que ficou velho e construir outra coisa. Aqui, o passado não é chorado nem vira nostalgia: vira estacionamento. Aqui, planos mudam de repente, a moda passa, o amor acaba, a rua muda de nome. Esse é o maior conselho de SP: esteja pronto pra seguir um caminho novo em cada esquina. A qualquer momento.
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