A Verdadeira Mentira que os Homens Contam

Posted By on ago 1, 2011 | 0 comments


Eu estava ao telefone com um amigo. Anos atrás. De repente, a conversa foi parar longe, na Grécia Antiga, e ele disse algo mais ou menos assim:

– Isso me lembra a história de Ícaro.

Eu não sou especialista em mitologia, mas sempre gostei do assunto e, por acaso, conhecia essa história. Respondi:

– Pois é! Por causa de um mero detalhe, lá se foi o “sonho de Ícaro”. Será que ele não sabia que a cera iria derreter com o calor do sol?

Meu amigo ficou muito bravo com a resposta. O que ele disse em seguida, eu dificilmente vou esquecer.

– Sabe qual é o seu problema? Você quer ser “espertinha” demais. Assim não dá! Você acha que os homens gostam? É por isso que você vai acabar sozinha. Você conhece mitologia? Parabéns! Mas de vez em quando, se souber um assunto, pelo menos finja que não sabe! Os homens gostam de ensinar. Desse jeito você fica muito desinteressante. Conselho de amigo.

Pausa para você, leitor, voltar do seu espanto. Mas calma. Ainda vai piorar. Eis o que me disse uma amiga, ao saber da história:

– Olha, ele não está totalmente errado. Idéias interessantes a gente troca com amigos. Tem hora pra ser “cabeça” e hora pra ser “mulher”.

Ah, tá. Entendi. Era só separar a “mulher sem cabeça” da “cabeça sem mulher”. Ok.

Provavelmente, algum homem vai dizer que discorda. Vai protestar com o velho clichê politicamente correto de “Eu sou diferente. Mulheres burras não me atraem”. Mas quem falou em burra? Burras, não. Mas há limites, como disse meu amigo.

 

A mulher inteligente (ou que você julga inteligente) fascina, é claro. Mas é o fascínio da excentricidade, do exótico, quase do bizarro. Se a conversa ficar boa demais, se um argumento dela derrubar o seu, é como uma ameaça, uma humilhação. É como se ela perdesse um certo encanto “feminino”.

Há exceções? Sempre há. De vez quando, surge um Diego Rivera, de ego resolvido e paladar refinado, pra encarar uma Frida Kahlo, sem medo de ser tragado pelo brilhantismo de uma artista que ele mesmo ajudou a florescer.

Será que, como aconselhou Shakespeare em “A Megera Domada”, ser inteligente é saber fingir que não é? Talvez. O problema é que, mais cedo ou mais tarde, essa mulher inteligente vai revelar seu segredo, sua falha de caráter, vai deixar escapar um comentário espirituoso, citar um artigo, um livro ou cometer a mancada de se destacar em algum talento. E aí, só um Rivera poderá perdoá-la.

O ego masculino será sempre esse sol derretendo os sonhos femininos de vôo, seja o vôo que for, como naquele mito de Ícaro. Conhece?

 

Dormindo na Direção
Escrevendo com Jack Bauer

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